sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Agitado coração rubro




Noite fria de outubro
estranha primavera
agitado coração rubro
pulsando a sua espera





Mal posso esperar para vê-la novamente
cobrir-te de noite, proteger-te do perigo
velejar em teus lábios ternos, calmamente
te amar até dormir, depois acordar contigo


Soprar seu cansaço para longe
afastar a ansiedade que a espera causa
ser teu anjo, tua fera, teu monge
orquestrar movimento em cada pausa

velejar em teus lábios
ver-te e do cansaço removê-la
dormir em beijos sábios
depois te acordar com uma Estrela...


Estranha primavera
numa fria noite de outubro
pulsando a sua espera
meu agitado coração rubro


Alan Medrado

Íntegra Lua


O diálogo diluiria logo

lânguidos lagos feito de fel ou dores

mas o diálogo se diluiu

delineado em silêncios devastadores




e que, por fim, sejam teus

todos os meus melhores momentos

que na mistrua dos corpos

misturem-se até os pensamentos...




o beijo seria o júbilo

o mar tranquilo dissipando a saudade

mas o beijo rebelou-se

drenou-se em sua própria intensidade




e que, por fim, sejam teus

meus mais selvagens instintos

e na reconstrução dos vales

veremos grandes males extintos...




o amor amordaçaria o grito lancinante

desarmaria qualquer instante de amarga previsão

mas o amor amordaçou-se humildemente

porque em sua harmonia ele prefere não ter razão




e que, por fim, seja tua

a minha respiração suave ou atrevida

e reintegre a íntegra Lua

nesta singela entrega da minha Vida...




Alan Medrado

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

era toda minha Era...

você não sabe, você era
era toda minha Era
minhas veias, minhas artérias
toda minha atmosfera

indócil, insensível, fera
você era toda minha era
meu amor, minha atmosfera
você não sabe, você era...

você ficou no comando
você abriu uma cratera
e saiu recriminando
você foi a atmosfera

e agora não é mais meu retiro
não é mais quem eu prefiro
não é sombra de um suspiro
não é sombra de uma atmosfera

e você quer alguém por inteiro
ainda me fala em amor a primeira vista
ou que quer um amor verdadeiro
ainda me fala em amor... sua egoísta!

indócil, insensível, fera
meu amor, minha atmosfera
minhas veias, minha artérias
era toda minha Era

você não sabe, você era...

Alan Medrado

Morto pela aurora

Parece haver um líquido corrosivo
dentro do meu peito
impressão de ar radioativo
sensação de ar rarefeito

mas ela não se importa
ela está morta por dentro

eu respeitava seu silêncio repentino
(e repetido) por toda a semana
e ela ainda criticava o que lhe parecia
ser apenas amor de cabana

ela não se importa
ela está morta por dentro

tratando o amor como artigo raro
apodrecendo em estoque
beijos cancelados, privados de carinho
abraços... olhares... toque...

mas ela não se importa
ela está morta por dentro

Negociando energia
de forma química e perigosa
a dor tem alívio momentâneo
mas retorna ainda mais poderosa

mas ela não se importa
ela está morta por dentro

e eu não tenho pra onde voltar
ela não mudou seu domingo
ela não mudou com os outros
mudou apenas comigo...

mas ela não se importa...

o vento sopra lá fora
deslocando a ordem do centro
eu... morto pela aurora
ela... morta por dentro...

Alan Medrado

Um olhar

A noite está morrendo devagar
e de vagar a madrugada toda
encontrei alívio...

Um olhar era tudo que eu esperava
mas a neblina silenciosa estava mais presente
tudo envolvia, tudo circundava
um suspiro triste vindo de uma alma reticente...

A noite vai morrendo depressa
e de pressa... pressão... possessão...
estamos todos cansados

Amor era tudo que meu coração suspendia
um oceano tranquilo para mergulhar
mas o que eu desejava não me pretendia
por isso me bastava apenas um olhar

saudades apenas
de viver em dias que prometiam outros tantos

saudades de amar
mesmo sem tanta leveza
certeza ou sabe-se lá como entender aquela correnteza
que me levava
e que me lavava as tristezas da alma...

saudades apenas
de ter e sentir alguém
e vislumbrar um pedaço de amor...

Alan Medrado

Fatal

e por amar
desisto de tentar alguma explicação
sempre soube que a simplicidade
gerava mais complicação...

por que você implica tanto?
por que você não se aplica mais?
uma súplica impedindo o pranto
uma réplica de seus ancestrais

e por amar
que eu odeio tanto
essa falta de amor
essa falta de senso
essa falta do que for

essa falta
mais que desumana
desigual
essa falta
altamente fatídica
FATAL...

Alan Medrado

sábado, 3 de julho de 2010

Fragmentos vivos

Quando se sente muita dor
fica-se tão insensível a dor alheia
tão alheio ao que se cerca
tão cercado pelo que desgasta

amealhando fragmentos vivos
de um coração revestido de agulhas
num mergulho vertiginoso
rumo ao nada...

Quando se sente muita dor
fica-se tão vulnerável a dor alheia
atingido pelas coisas a sua volta
mar revolto... sob o vôo de gaivotas
em redemoinho... triste revolta
viagem de ida sem previsão de volta

amealhando fragmentos vivos
de um coração revestido de agulhas
num mergulho vertiginoso
rumo ao nada...

o amor estirado e esquecido
num canto amargo
num canto escuro
faminto e sedento
sem água ou qualquer alimento
morrendo à míngua
enquanto a Lua minguante
insinua-se em tua língua...

há o consolo de existir algo
mas não há algo consolador
insensível a mágoa alheia
quando se sente muita dor...

Alan Medrado 2010

As dores furiosas

As dores furiosas no centro do meu peito
quase esmigalham o meu espírito
não me arrependo de tudo que foi feito
muito menos de tudo que foi dito

injustamente nada foi refeito
o que ficou inacabado foi tratado por detrito
eu sei que nem tudo foi perfeito
mas alguns versos eu preferia não ter escrito

você encontra explicação
e nem sempre significa conforto
melhor continuar em ação
embora eu preferisse estar morto

muitas coisas me deixaram grato
mas nem sempre impediram meu grito
anos esmaecidos gravados num prato
versos que eu preferia não ter escrito

fica um gosto amargo na alma
como se tudo tivesse sido em vão
como se fôssemos feitos para voar
e permanecêssemos arrastados pelo chão

ou como se o amor fosse o véu de uma nova infância
oferecido a alguém que não deu a menor importância

e que me faz pensar
que seria melhor que nunca se oferecesse;
nunca se ofertasse amor
a quem não demonstra o menor interesse...

...o véu de uma nova infância
...tratado por detrito
...alguém que não deu importância
...preferia não ter escrito

...cripta, decreto infinito
...nunca se ofertasse, nem se oferecesse
...esmigalha meu espírito
...quem não demonstra o menor interesse....

Alan Medrado 2010

terça-feira, 22 de junho de 2010

diferentes...

...a saudade que sinto
a saudade que sentes
intensas, devem ser
presumo apenas diferentes

dor indisfarçável
sentimentos diferentes
o amor que sinto
o amor que desmentes

vigorosos amantes
pálidas sementes
somente mágoas
perdas diferentes

envolvimento simultâneo
polaridades diferentes
almas tão espontâneas
desanimadas e reticentes

beijos silenciosos
sangues inocentes
passos lamuriosos
apenas passos diferentes

presumo apenas diferentes
apenas diferentes
a saudade que sinto
a saudade que sentes...

Alan Medrado 2010

...

A arte é a mãe de todas as curas

o verdadeiro dia acontece no céu
nuvens saboreiam sua essência melhor do que nós
há tanto som ecoando em silêncio
tantas dores tomando sua alma, sufocando sua voz...

quero tirar uma foto do infinito
a inversão... o gelo vulcânico, a lava glacial
num olhar distante me perco aflito
e me encontro no espaço anti-gravitacional

somos filhos rebeldes de todas as curas...

Alan Medrado 2010

Minha alma em palavras

Eu não gosto de mim sem você
Não gosto de você sem mim
Eu gosto mais de nós dois do que de mim mesmo

minha alma em palavras

é um canto profundo num canto triste
o canto mais feliz que existe
é um canto de dor que insiste
num canto de amor que desiste...

minha alma em palavras

se lembra das palavras que foram ditas?
se lembra do amor que foi dividido?
não-infinito
concebido
consolidado
assassinado

Eu não gosto de mim sem você
Não gosto de você sem mim
Eu gosto mais de nós dois do que de mim mesmo

Alan Medrado 2010

tentáculos...

O momento mais difícil do amor
é percebê-lo distante
enquanto a estante permanece repleta de obras
e sobras consomem os instantes...

e você se vê inutilmente preso
a uma esperança
lágrimas em represa
surpresa que não se alcança...

a promessa de conspiração universal positiva
diluída

o momento mais difícil do amor
é despedir-se
sem que o coração queira
sem que o coração tenha sequer cogitado
é sentí-lo sangrando
não mais pulsando, como fora programado...

o momento mais difícil do amor
é assumir com humildade
que não é mais necessário dedicar-se
a transpor tantos obtáculos
e libertar com a grandeza do sentimento
ignorando a dificuldade do momento
afrouxando todos os tentáculos...

Dores de tristeza emaranhadas
a dores de saudade
difícil desistir
pior ainda amar contra a vontade...

Dores de tristeza emaranhadas
a dores de tanto remar
difícil desistir
pior ainda a incapacidade de amar...

Alan Medrado 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

...

De que adianta definir culpa
quando ambos são castigados?
todas as toxinas foram ingeridas
nem todos os nutrientes mastigados

todas as peças foram distribuídas
nem todos os movimentos realizados
todas as casas foram destruídas
nem todos os suprimentos utilizados

toda energia fora consumida
nenhum alívio foi catalisado
toda prudência foi concebida
nenhum benefício foi analisado

De que adianta definir culpa
quando todos acabam sendo castigados?
não faz diferença para dor
não faz diferença definir culpados...

Alan Medrado 2010

coração anestesiado

Eu preferia não estar aqui
pra ver os dias desmentirem o amor vivido
eu preferia não estar aqui
porque nada mais tem feito o menor sentido...

e eu tenho sentido que os dias tem me enterrado
venho sentindo apenas que estou no lugar errado

É difícil resistir
quando resistir é o mesmo que dar voz
ao grito combatido

Eu preferia não estar aqui
vendo os dias desmentirem o amor vivido
eu preferia não estar aqui
porque estar aqui já não faz o menor sentido...

É difícil resistir
quando resistir é o mesmo que dar voz
ao grito combatido
é o mesmo que dar voz ao grito insensível e angustiado
que repudia o afago ao encerrar-se num coração anestesiado

Eu penso em suicídio... suicídio é assassinato
não existir ou nunca ter existido de fato...

Alan Medrado 2010

domingo, 20 de junho de 2010

Andando em noite doentia...

Andando em noite doentia
Fodido de saudades
Retalhado por memórias
Doído de amor...

Andando em noite fria
Fodido de ódio
Lacerado por lembranças
Desanimado por desamor...

a paz anda distante
enquanto rondo pelas ruas

as pessoas vão pra casa em silêncio
e meu silêncio guarda milhões de decibéis
tenho um vazio apertando dentro do peito
tenho dores que começam desde os meu pés...

Andando em noite exata e magnífica
Isolado de tudo que me anima
Buscando paraíso em qualquer descanso
o inferno mora logo acima...

Alan Medrado 2010

com todo meu amor

Ela era a única que me interessava manter contato
Hoje é a única de que não tenho notícias
e se me alegrava o amor diário ter se tornado fato
Agora um fardo carrego sem suas carícias...

Ela tem o coração carregado de emoções que a punho controla
Justificando-se em defesas desnecessárias
Ela atropela, inclusive o cuidado amoroso que a consola
Fechando-se nas mais terríveis das penitenciárias...

E o que mais me frustra, mais me incomoda,
mais me deixa a ponto da loucura de desistir
É que não há nada que eu possa fazer, com todo meu amor
A não ser deixá-la ir...

E o que mais me perturba, mais me confunde, mais me amedronta
é que ela entenda meu amor, mas nunca se dê conta

de que eu estaria ao seu lado
mesmo que os dias fossem doentes
mesmo que o cansaço a abatesse
e surgissem dores permanentes

de que ela poderia expulsar
exatamente tudo aquilo que lhe causasse dor
as inseguranças, os tormentos, as tempestadas
só não poderia expulsar o que lhe trazia amor...

E o que mais me frustra, mais me fere,
mais me cala
é não poder fazer nada, como todo meu amor...
a não ser... deixá-la...

Alan Medrado 2010

Livros e pálpebras...

Preciso me livrar de alguns livros
Lavrar novas palavras
Antes que minhas pálpebras sequem
e sejam consumidas por larvas...

Preciso me livrar de alguns sentimentos
sem que os sentimentos se livrem de mim

Preciso me livrar de um amor
que não quis ser amado
ou não pode ser bem quisto
preferindo isto; deixar de lado...

por medo, dúvida ou simplesmente
por estar com o coração arrebentado
por ter perdido a paciência
de permitir qualquer tipo de cuidado...

Preciso me livrar de alguns livros
que não pude concluir os textos
me sabotaram os capítulos
me rasgaram das páginas e dos sonetos...

agindo como se nada tivesse sido escrito
ou se o que tivesse sido não valesse ser publicado
preciso me livrar desse amor tão infinito
que cruzou os braços diante de torpor tão delicado...

por egoísmo, falta ou simplesmente um gesto bem intencionado
preciso deixar pra lá, tudo aquilo que um dia me deixou de lado...

Lavrar novas palavras
me livrar de alguns livros
antes de ser consumido por larvas...

Lavrar novos livros
te levar em uivos livres
mutantes consumados em palavras...

Alan Medrado 2010