terça-feira, 22 de junho de 2010

diferentes...

...a saudade que sinto
a saudade que sentes
intensas, devem ser
presumo apenas diferentes

dor indisfarçável
sentimentos diferentes
o amor que sinto
o amor que desmentes

vigorosos amantes
pálidas sementes
somente mágoas
perdas diferentes

envolvimento simultâneo
polaridades diferentes
almas tão espontâneas
desanimadas e reticentes

beijos silenciosos
sangues inocentes
passos lamuriosos
apenas passos diferentes

presumo apenas diferentes
apenas diferentes
a saudade que sinto
a saudade que sentes...

Alan Medrado 2010

...

A arte é a mãe de todas as curas

o verdadeiro dia acontece no céu
nuvens saboreiam sua essência melhor do que nós
há tanto som ecoando em silêncio
tantas dores tomando sua alma, sufocando sua voz...

quero tirar uma foto do infinito
a inversão... o gelo vulcânico, a lava glacial
num olhar distante me perco aflito
e me encontro no espaço anti-gravitacional

somos filhos rebeldes de todas as curas...

Alan Medrado 2010

Minha alma em palavras

Eu não gosto de mim sem você
Não gosto de você sem mim
Eu gosto mais de nós dois do que de mim mesmo

minha alma em palavras

é um canto profundo num canto triste
o canto mais feliz que existe
é um canto de dor que insiste
num canto de amor que desiste...

minha alma em palavras

se lembra das palavras que foram ditas?
se lembra do amor que foi dividido?
não-infinito
concebido
consolidado
assassinado

Eu não gosto de mim sem você
Não gosto de você sem mim
Eu gosto mais de nós dois do que de mim mesmo

Alan Medrado 2010

tentáculos...

O momento mais difícil do amor
é percebê-lo distante
enquanto a estante permanece repleta de obras
e sobras consomem os instantes...

e você se vê inutilmente preso
a uma esperança
lágrimas em represa
surpresa que não se alcança...

a promessa de conspiração universal positiva
diluída

o momento mais difícil do amor
é despedir-se
sem que o coração queira
sem que o coração tenha sequer cogitado
é sentí-lo sangrando
não mais pulsando, como fora programado...

o momento mais difícil do amor
é assumir com humildade
que não é mais necessário dedicar-se
a transpor tantos obtáculos
e libertar com a grandeza do sentimento
ignorando a dificuldade do momento
afrouxando todos os tentáculos...

Dores de tristeza emaranhadas
a dores de saudade
difícil desistir
pior ainda amar contra a vontade...

Dores de tristeza emaranhadas
a dores de tanto remar
difícil desistir
pior ainda a incapacidade de amar...

Alan Medrado 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

...

De que adianta definir culpa
quando ambos são castigados?
todas as toxinas foram ingeridas
nem todos os nutrientes mastigados

todas as peças foram distribuídas
nem todos os movimentos realizados
todas as casas foram destruídas
nem todos os suprimentos utilizados

toda energia fora consumida
nenhum alívio foi catalisado
toda prudência foi concebida
nenhum benefício foi analisado

De que adianta definir culpa
quando todos acabam sendo castigados?
não faz diferença para dor
não faz diferença definir culpados...

Alan Medrado 2010

coração anestesiado

Eu preferia não estar aqui
pra ver os dias desmentirem o amor vivido
eu preferia não estar aqui
porque nada mais tem feito o menor sentido...

e eu tenho sentido que os dias tem me enterrado
venho sentindo apenas que estou no lugar errado

É difícil resistir
quando resistir é o mesmo que dar voz
ao grito combatido

Eu preferia não estar aqui
vendo os dias desmentirem o amor vivido
eu preferia não estar aqui
porque estar aqui já não faz o menor sentido...

É difícil resistir
quando resistir é o mesmo que dar voz
ao grito combatido
é o mesmo que dar voz ao grito insensível e angustiado
que repudia o afago ao encerrar-se num coração anestesiado

Eu penso em suicídio... suicídio é assassinato
não existir ou nunca ter existido de fato...

Alan Medrado 2010

domingo, 20 de junho de 2010

Andando em noite doentia...

Andando em noite doentia
Fodido de saudades
Retalhado por memórias
Doído de amor...

Andando em noite fria
Fodido de ódio
Lacerado por lembranças
Desanimado por desamor...

a paz anda distante
enquanto rondo pelas ruas

as pessoas vão pra casa em silêncio
e meu silêncio guarda milhões de decibéis
tenho um vazio apertando dentro do peito
tenho dores que começam desde os meu pés...

Andando em noite exata e magnífica
Isolado de tudo que me anima
Buscando paraíso em qualquer descanso
o inferno mora logo acima...

Alan Medrado 2010

com todo meu amor

Ela era a única que me interessava manter contato
Hoje é a única de que não tenho notícias
e se me alegrava o amor diário ter se tornado fato
Agora um fardo carrego sem suas carícias...

Ela tem o coração carregado de emoções que a punho controla
Justificando-se em defesas desnecessárias
Ela atropela, inclusive o cuidado amoroso que a consola
Fechando-se nas mais terríveis das penitenciárias...

E o que mais me frustra, mais me incomoda,
mais me deixa a ponto da loucura de desistir
É que não há nada que eu possa fazer, com todo meu amor
A não ser deixá-la ir...

E o que mais me perturba, mais me confunde, mais me amedronta
é que ela entenda meu amor, mas nunca se dê conta

de que eu estaria ao seu lado
mesmo que os dias fossem doentes
mesmo que o cansaço a abatesse
e surgissem dores permanentes

de que ela poderia expulsar
exatamente tudo aquilo que lhe causasse dor
as inseguranças, os tormentos, as tempestadas
só não poderia expulsar o que lhe trazia amor...

E o que mais me frustra, mais me fere,
mais me cala
é não poder fazer nada, como todo meu amor...
a não ser... deixá-la...

Alan Medrado 2010

Livros e pálpebras...

Preciso me livrar de alguns livros
Lavrar novas palavras
Antes que minhas pálpebras sequem
e sejam consumidas por larvas...

Preciso me livrar de alguns sentimentos
sem que os sentimentos se livrem de mim

Preciso me livrar de um amor
que não quis ser amado
ou não pode ser bem quisto
preferindo isto; deixar de lado...

por medo, dúvida ou simplesmente
por estar com o coração arrebentado
por ter perdido a paciência
de permitir qualquer tipo de cuidado...

Preciso me livrar de alguns livros
que não pude concluir os textos
me sabotaram os capítulos
me rasgaram das páginas e dos sonetos...

agindo como se nada tivesse sido escrito
ou se o que tivesse sido não valesse ser publicado
preciso me livrar desse amor tão infinito
que cruzou os braços diante de torpor tão delicado...

por egoísmo, falta ou simplesmente um gesto bem intencionado
preciso deixar pra lá, tudo aquilo que um dia me deixou de lado...

Lavrar novas palavras
me livrar de alguns livros
antes de ser consumido por larvas...

Lavrar novos livros
te levar em uivos livres
mutantes consumados em palavras...

Alan Medrado 2010