quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cada desencontro...





Cada encontro tem sido uma despedida
Silêncio e saudade mais presentes que abraços
Distantes, para evitar confronto e ferida
Em meio a tardes sem cor e noites sem traços

Trouxe um ramalhete que deveria ser posto em água
Mas foi o mesmo que ordenar para que lançassem ao fogo
Em poucos instantes o afeto é substituído por mágoa
E a estratégia, antes criticada, vira a principal regra do jogo

Cada encontro tem parecido uma armadilha
Quem acabará por provocar o próximo dissabor?
Você permanece irada e eu permaneço ilha
Trocando parcos banquetes por jantares sem sabor

A cada encontro o coração está na mira
Alvos frágeis feitos de carga explosiva
Você permanece ilhada e eu permaneço ira
A ansiedade ácida e a angústia corrosiva

Afago em fuga, seguindo para longe
Enquanto afiada adaga me penetra o peito
errado quando louco ou quando monge
errado quando humano ou quando perfeito

Tentando nutrir-se de rara calma desvairada
Enquanto a paz permanece pálida e perdida
Aguardando cada encontro com esperança renovada
Mas cada encontro tem sido uma despedida

Enfrentava demônios e me sentia livre em seus domínios
Mas talvez fosse melhor que eu tivesse me dominado
Nós sabemos o quanto é precioso o amor e seus desígnios
Mas você pensa que só teu coração é um campo minado....


Alan Medrado

Se eu pudesse dizer...




Se eu pudesse dizer o quanto eu amo todos que me cercam
Talvez levasse um bom tempo até que todos entedessem
Ficariam surpresos aqueles que como eu inevitavelmente pecam
me condenariam seriamente por aqueles que nada merecessem...

Se eu eu pudesse dizer o quanto choro
por enfrentar e nem sempre vencer o perigo...
muitos se identificariam com o que adoro
e sem culpa, chorariam ternamente comigo...

Se eu pudesse dizer o quanto me interessa
os sonhos daqueles que estão prestes a desistir
metade do mundo abandonaria a inútil pressa
e viveria muito mais em vez de apenas existir...

Se eu pudesse dizer o quanto te amo
talvez a resistência abrandasse por tudo que digo
você atenderia todas as vezes que chamo
e voltaria tranquila e realizada, para casa, comigo...

Mas só se eu pudesse dizer...



Alan Medrado

quinta-feira, 24 de março de 2011

Mortes Vivas

Reinam dores e mistérios
Numa redoma de mortes vivas...
Procurando por impérios
Ocultos em noites decisivas

Nesta redoma de mortes vivas
Quase invisíveis são as portas
As que se abrem são negativas
Elas alimentam essas vidas mortas

Inevitável lembrar do amor
Quando tudo é dor e dformidade
E você esperava alguma cor
Mas seu quadro só usou saudade...

Noites decisivas se chocam em manhãs incertas
Tardes ansiosas que ardem e confundem
A vida tornou-se repleta de paisagens desertas
À espera de alegrias que a inundem...

Pensei que estava imune, olhando tantas vidas mortas
Mas se teu barco naufraga; marejam minhas conjuntivas
Achei que poderia escapar, escancarando tantas portas
E agora, sinto mais do que nunca, tantas mortes vivas


Alan Medrado

Beijo Celestial


Todos os dias
em ondas cintilantes
de azul supremo
o Céu desce em anos luz
e prepara sem cerimônia
sob o olhar caudaloso do Sol
seu beijo carinhoso
no revolto mar...

(é sua maneira de dizer bom dia...)

E tranquilamente
ao se vestir no manto negro;
noturno
cede, soturno
outro afago amoroso
aos lençóis d'água
sob o sereno olhar do Luar...

(é sua maneira de dizer boa noite...)


Alan Medrado

terça-feira, 15 de março de 2011

Âmago em magma



Se nada acontece por acaso
que ocaso acomete tua alma
depois que ficamos juntos?

Por que você não se volta ao teu coração
em vez de revoltar-se com ele?

Por que você nega toda a energia que emprega?
Por que você se entrega e não se entrega a mim?
Por que você estraga tudo e não se reintegra?
Será que só haverá surdos "porquês" até o fim?

O caso é que se nada acontece por acaso
por que amar à prazo
quando o amor foi a primeira vista?

Por que testar tudo que foi conquistado
esbarrando em descaso
se podemos evitar que a alma desista?

Meu âmago em magma
Desnorteado... à espera de beijos d'água
Meu âmago em magma
Frustrado e vencido pela Realeza-Mágoa...




Alan Medrado

Tola herança

às vezes eu penso
que a melhor resposta
é não fazer tantas perguntas...

vivemos hipnotizados
e algo mantém firme esse transe
quase narcotizados
suspirando enquanto a testa franze

vivemos hipnotizados
como se alguém tivesse eleito essa nossa condição
como algo definitivo...
vivemos narcotizados
passando adiante a tola herança em forma de ação
como um efeito radioativo

a tola herança de esquecer a tolerância
a tola herança de esquecer o bom senso
a tola herança da ignomínia e ignorância
a tola herança do desperdício intenso...

vivemos carbonizados só de ver tantos conflitos
tantos cadáveres precoces, todos desnecessários
vivemos hipnotizados, narcotizados e perdidos
integrados ou destruídos por perversos calendários

passando adiante a tola herança que nos foi dada
a herança de que você deve tudo e não merece nada

a tola herança de esquecer os outros
a tola herança de esmagar os fracos
a tola herança de morrer aos poucos
a tola herança de viver aos tragos


Alan Medrado

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Eu queria que o equilíbrio adormecesse em mim...






Equilíbrio arde em mim
feito tarde pacífica que divide o caos diário
com pesadelos noturnos...


Esperança escapou sorrateiramente
feito pássaro tranquilo
que vivia confortável em ninho acolhedor
(sem previsão de retorno)
seu corpo tem os céus como adorno
e as estrelas como cobertor...

Amor está comigo
feito soldado abatido em confronto
sempre pronto para seguir em batalha
enfrentar o calor da pólvora
ou o doloroso fio da navalha...

A Morte me espera
como uma amiga paciente
que traz em seus braços conforto e más notícias
ferimentos profundos em suas carícias...

A Vida flui
como um rio de Tristeza
que vai disciplinado em busca de algum oceano

Atlântico ou Pacífico
ou um que não seja tão específico
mas que reforme, reverta
transforme em alegria
as lágrimas que minha alma já não retém
seja por ver o Mal
seja por duvidar do Bem...

Equilíbrio ainda arde em mim...

Alan Medrado

Luar sepulcral (Dois lobos)


Éramos dois lobos feridos
em silêncio sob a Lua cheia
em nossa última noite de amor

Silêncios e lugares
Silêncios e olhares

Nus
sem segredos, nem indagações
nem indignações, sem cobranças e injustiças
sem mistério

Dois lobos que se amaram feridos
Enquanto o luar dava seu último suspiro
sobre o cemitério...

Alan Medrado

sábado, 1 de janeiro de 2011

fizemos amor

fizemos o amor parecer humano
fizemos o amor parecer imperecível
fizemos o amor aparecer pelo ano
fizemos o amor parecer algo possível

fizemos o amor parecer...
fizemos o amor parecer...
fizemos o amor parecer algo sem igual
fizemos o amor parecer...
fizemos o amor aparecer!
fizemos o amor perecer no final...

fizemos o amor parecer agradável
fizemos o amor parecer terno
fizemos o amor parecer descartável
(até podíamos tê-lo feito eterno)

fizemos o amor parecer genuíno
fizemos o amor parecer loucura
fizemos do amor nosso declínio
fizemos o amor parecer ter cura

...parecer ser a cura...

fizemos o amor parecer mágico
fizemos o amor parecer divertido
fizemos o amor parecer trágico
fizemos o amor parecer pervertido

fizemos o amor merecer sentido...

fizemos o amor padecer
a tristeza tornou-se sua foz
fizemos o amor padecer
agora o tempo se desfaz de nós...


Alan Medrado

Pilares imaginários

A existência nutre-se de pilares imaginários
em suas noites sufocantes devido a ausência
chamas consomem cavaleiros templários
e pilares imaginários sustentam a existência...



de datas marcadas guia-se a humanidade
desejos reprimidos e estocados na inconsciência
restou a indiferença frente a insanidade
de pilares imaginários refastela-se a existência...



fizemos amor
e ao fazer amor:



fizemos o amor parecer mágico
fizemos o amor parecer divertido
fizemos o amor parecer trágico
fizemos o amor parecer pervertido



fizemos amor
e isso basta...


porque ao fazermos amor


fizemos o amor parecer trágico
fizemos o amor parecer divertido
fizemos o amor parecer mágico
fizemos o amor merecer sentido



em frases repletas de ira repousam corações frios
que lutam em vão contra sua própria cadência
os que se julgam oceanos são apenas tóxicos rios
de pilares imaginários alimenta-se a existência



Alan Medrado