sábado, 3 de julho de 2010

Fragmentos vivos

Quando se sente muita dor
fica-se tão insensível a dor alheia
tão alheio ao que se cerca
tão cercado pelo que desgasta

amealhando fragmentos vivos
de um coração revestido de agulhas
num mergulho vertiginoso
rumo ao nada...

Quando se sente muita dor
fica-se tão vulnerável a dor alheia
atingido pelas coisas a sua volta
mar revolto... sob o vôo de gaivotas
em redemoinho... triste revolta
viagem de ida sem previsão de volta

amealhando fragmentos vivos
de um coração revestido de agulhas
num mergulho vertiginoso
rumo ao nada...

o amor estirado e esquecido
num canto amargo
num canto escuro
faminto e sedento
sem água ou qualquer alimento
morrendo à míngua
enquanto a Lua minguante
insinua-se em tua língua...

há o consolo de existir algo
mas não há algo consolador
insensível a mágoa alheia
quando se sente muita dor...

Alan Medrado 2010

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